top of page

Daniel Blaufuks  |  April 2016

Bio

​

Daniel Blaufuks was born in Lisbon.

He studied at AR.CO, Lisbon (1989); at the Royal College of Art, London (1993); the Watermill Center, New York (1994); the International Studio and Curatorial Program, New York (2001); Location One, New York (2003); he holds a PhD granted by the University of Wales (2017). He worked as a professor at AR.CO; ETIC; EPI; Maumaus (co-founder); IPA; Atelier de Lisboa, Lisbon; SESC, Rio de Janeiro; Faculdade de Belas Artes, Lisbon; Universidade Católica, Lisbon.

Awards and nominations: AICA-MC Award for Visual Arts, 2016; nominated for the Deutsche Boerse Award, 2015; Best Portuguese Documentary, IndieLisboa, 2011; Best proposal, LOOP, Barcelona, 2008; Shortlisted for Pilar Citoller Award, 2007; nominated for the Deutsche Boerse Award, 2007; Best Photography Book of the Year in the International Category, Photoespana, 2007; BES Photo Award, 2007; nominated for Albert Renger-Patzsch Award, 2006; Best Director, Caminhos do Cinema Portugues, Coimbra, 2002; Best Director, Vila do Conde International Short Film Festival, 2001; shortlisted for the European Photography Award, 1996; Kodak National Award, 1990.

Daniel Blaufuks works with photography and video to produce books, installations and films. His favorite themes are the relationship between time and space and the representation of private and public memory.

Project

​

The work produced during the residence evolved into several different works, which later gave rise to the exhibition Monte dos Vendavais, in Galeria Fonseca Macedo. Still in the scope of the residence, Blaufuks directed the film Levantados do Chão, which premiered in the festival TREMOR 2018.

​

​

O MONTE DOS VENDAVAIS

"Os trabalhos desta exposição foram realizados em duas visitas à ilha de São Miguel, ligadas à minha residência no Pico do Refúgio. Em ambos os reencontros foi mais uma vez a paisagem, a vegetação por vezes quase tropical, o mar em volta, que me impressionaram, e me fizeram respirar de uma forma diferente do que no continente.

Esta natureza está presente, apesar de talvez não parecer, nos três (ou serão quatro?) núcleos de trabalhos apresentados. Na verdade, se pensarmos bem, toda a nossa existência como seres humanos é uma constante tentativa de co-habitação com esta mesma natureza num único planeta. Aproveitamo-nos avidamente dela, abusamos dela, lutamos constantemente contra ela, destruindo-a, encurralando-a, enjaulando-a em reservas, parques, jardins, canteiros. À medida que avançamos ela diminui, à medida que aumentamos os nossos números, a natureza perde implacavelmente terreno. Mas a cada doença, a cada epidemia, a cada tempestade, a cada guerra por falta de recursos ou espaço, a cada morte, ela dá a volta por cima e nós somos incorporados nessa mesma terra de onde supostamente viemos. Viver é ter consciência disso e se nos quisermos aproximar do pensamento de Espinoza, poderemos encarar a Natureza como o único verdadeiro D’us. Deveríamos lembrar-nos disso cada vez que cortamos uma árvore ou deixamos que uma estrada se construa em nome de algo a que nos habituámos chamar de progresso, como se essa denominação fosse só por si uma mais valia e ainda se escrevesse com maiúscula.

Assim temos um hotel abandonado pelos investidores em que a vegetação lentamente (ou rapidamente porque este tempo não é o do ser humano) vai reganhando o seu espaço, consolidando a sua supremacia. Não duvidamos que um dia o planeta terá este aspecto e é dessa noção mais ou menos inconsciente que nasce provavelmente o fascínio gerado por esta recente ruína nas pessoas que ali param diariamente e a exploram, como se de uma antiguidade romana se tratasse. Antevemos aqui, como num parque de diversões, um mundo pós-guerra, pós-apocalíptico, pós-nós. Ao fotografar esse abandono, esse musgo, partilho, sem dúvida, desse fascínio, como uma criança que olha um filme de terror com um olho meio-aberto e outro meio fechado.

Uma outra série de pequenos formatos percorre a casa-estúdio do infelizmente pouco recordado escultor Canto da Maia, que a apelidou, em óbvia referência, de Monte dos Vendavais. Um nome que fica igualmente bem, penso, como título desta exposição, porque sempre que ponho os pés nesta ilha, há um dia ou dois de vendaval ou mesmo de furacão. Também esta casa foi abandonada à sua solidão durante muitos anos e também aqui a natureza foi entrando levemente, não passo a passo, mas teia a teia. raiz a raiz, ramo a ramo. Entretanto a casa, contrariando o seu destino óbvio de casa-museu, foi vendida como qualquer outro imóvel e encontra-se actualmente em fase de recuperação para habitação particular. A natureza foi travada, mas o que são alguns anos ou décadas nesta luta infindável? Sabemos já quem sairá vencedor."



Daniel Blaufuks, Lisboa, Janeiro, 2018

bottom of page